Eles não gostam de ti, António

Penso que António Parada já percebeu há muito tempo que a teocracia matosinhense está irritada com a perspetiva de um regime falocrático. Por outras palavras, a média e pequena burguesia de Bouças, mais de de baixo que a de cima, não tolera que um pé-rapado tenha conquistado o direito de se tornar comes desta terra. A entrevista de hoje do JN a Parada é um bom exemplo desta irritação. Entende-se que os poderes instalados, muitas vezes sobre a ilusão de desentendimentos sempre sanáveis, fundada em posições de boa empregabilidade, em fusões sociais, em pactos de sangue, em jantares e almoços, palmadinhas nas costas e trocas de cromos, se incomodem perante a perspetiva de o governo da "nação" passar para as mãos de desalinhados e de frequentadores de tascas. Há que defender o bom nome e a honra de Matosinhos, há que de defender o alinhamento e o posicionamento, que a coisa está preta e agora, sim, é preciso assegurar o dia de amanhã. O problema é que o amanhã que se anuncia é o de António Parada, o antigo guarda-costas e guarda-redes, na presidência da Câmara Municipal de Matosinhos. Para além de se recear que o poder literalmente caia na rua, receia-se que Parada surja em outubro com uma vassoura na mão, pronto para varrer o pó que se acumulou nos últimos anos nos diversos departamentos municipais. Por isso mesmo é que estou a gostar de ver este espetáculo que nesta primeira fase visa reduzir Parada à dimensão que muitos matosinhenses ainda pensam que apenas tem. Daqui a uns meses, muito provavelmente, tudo isto irá mudar e alguém vai descobrir em António Parada um génio das autarquias, passando a tratá-lo por doutor, esquecendo mesmo que o atual presidente da junta conseguiu o seu curso numa universidade onde até o bêbado da minha rua seria capaz de completar um doutoramento.