ADEUS PRESIDENTE

Raros são os momentos em que nos reconciliamos com o serviço público. Este foi um deles. Quando a nossa Câmara decidiu honrar Mário Maia recebendo o seu corpo numa despedida sentida do povo de Matosinhos ao seu primeiro presidente de câmara eleito. O sr. Mário Maia foi, por isso, o meu presidente democrático e também o meu primeiro patrão num Verão já antiga. Tinha 15 ou 16 anos e passei as férias a trabalhar na "Gónia". A vender anzóis, carretos, canas de pesca, botas de borracha e a preparar encerados para automóveis. O que parecia um castigo aplicado pelo meu pai Queirós acabou por ser um prémio pois aprendi o valor do trabalho e conheci gente muito boa. Foi uma experiência inesquecível. No final ganhei mil escudos, que pedi para me serem dados em "Santos Antónios" (notas de 20 escudos) - o meu primeiro salário a sério. Habituei-me a ver no "bom gigante" Mário Maia não apenas um excelente patrão mas também uma pessoa amigável, sábia e convicta. Raros são os homens que servem o povo sem dele se servir. Tenho a certeza que foi isso que aconteceu com ele. Encontrei-o pela última vez há dois meses, já a doença o minava, quando falava com Vítor Oliveira na rua de França Júnior, junto à casa onde nasceu o agora manager do Leixões. O sr. Mário Maia vinha a descer a rua no seu passo longo e por ali ficámos alguns minutos à conversa. O adeus de Matosinhos ao seu grande presidente dignificou a cidade. O Mário Jorge e o Rui, o seus filhos, e a sua mulher, d. Eugénia, perceberam que a cidade e o concelho jamais esquecerão um matosinhense por adopção mas com todo o seu coração aqui. Na nossa terra e na nossa memória. Adeus presidente, a história já mostrou que não se esqueceu de si.