Eugénio de Andrade em criança viveu debaixo de um barco na antiga maré de Matosinhos, entre o rio e o mar. Acabou por ser protegido por um barbeiro que por ali tinha estabelecimento. É assim se fez homem, barbeiro e poeta.
Era ele quem dizia ser o verdadeiro Eugénio de Andrade pois o famoso poeta assinava com pseudónimo.
O meu homónimo foi, durante alguns anos, o meu barbeiro, ao lado do filho António, na rua do Godinho. Não era de muitas falas mas de quando em vez dizia um dos seus poemas. A Câmara de Matosinhos reconheceu-o ao editar um livro.
Na última vez que me cortou o cabelo, o senhor Eugénio já estava doente. Dessa vez apenas me convidou a ler o poema de despedida que tinha colado no espelho.
Era um grande senhor de Matosinhos. Verdadeiramente.
A foto é do Hernâni Conceição