Matosinhos é Siza mas não podemos esquecer o homem que o fez regressar do 'exílio'

 


Um conjunto de obras do arquiteto matosinhense Siza Vieira, entre as quais a Casa de Chá da Boa Nova e a Piscina das Marés, está em candidatura para património mundial.

Foi pela mão do presidente da Câmara de Matosinhos Fernando Pinto Oliveira que um conjunto de arquitetos da escola do Porto, entre os quais Siza Vieira, teve oportunidade para conceber em Matosinhos obras que não encaixavam nos cânones da época. É esta ousadia/visão que distingue os bons e os maus políticos.

Depois de um largo hiato, Siza, que em Matosinhos desenhou também as famosas quatro casas, junto à obra do Padre Grilo, regressou a Matosinhos pela mão de Narciso Miranda e é dele a marginal de Leça da Palmeira hoje ainda tão criticada mas já mais consensual. Não sei se se recordam que o atual presidente da banda de Matosinhos Leça, armado em GNR, disse, sem cantar, felizmente, que queria Leça com palmeiras e sem o Siza Vieira, provavelmente devido a um sonho psicotrópico com um qualquer paraíso tropical ou então porque não recuperou depois de levar com um coco na cabeça (as duas hipóteses podem ser válidas).

Álvaro Siza realizou o seu primeiro projeto em atelier próprio apenas com 21 anos de idade, tratando da cozinha da casa da avó. Seguiram-se o portão do tio e a casa de banho de Irene Gramacho. Pouco depois, concebeu um conjunto de quatro habitações entre a Avenida Afonso Henriques e a Obra do Padre Grilo e o centro paroquial de Matosinhos (parcialmente construído e alterado). De 1955 a 1958 trabalhou no atelier de Fernando Távora, de onde sai para, em 58, conceber o projeto da Casa de Chá-Restaurante da Boa Nova, concluída em 1963 e um projeto que contou com a mão também de Alberto Neves, António Menéres, Botelho Dias e Joaquim Sampaio. A Piscina das Marés é concluída em 1966, um ano depois da conclusão da também sua Piscina da Quinta da Conceição.


Quem quiser encontrar mais obras de Álvaro Siza em Matosinhos pode ainda procurar dois jazigos no cemitério de Sendim (o da família Siza e o da família Martins Camelo), o monumento a António Nobre, em Leça da Palmeira, e a casa Ferreira Costa, na rua Azenha de Cima. Já sepultado em Matosinhos não em jazigo mas na nova cidade de Matosinhos Sul/Foz Norte está o refeitório da Refinaria Angola (1960). 

Depois dos seus verdes anos, Siza teve de esperar muito para voltar a fazer obra na sua terra. Só em 2002 Siza é chamado por Narciso Miranda para elaborar o plano de pormenor da zona ocupada pela fábrica Gist-Brocades, avançando depois para a marginal de Leça da Palmeira, que quis sem mobiliário e arvoredo e com pouca luz, para deixar o horizonte e o mar em paz.

Siza Vieira não é uma marca de Matosinhos, ele é, sim, A Marca de Matosinhos. É pena não ter feito mais obra por cá pois é um génio que até tem a virtude de ser do Benfica.

Vem tudo isto a propósito não da notícia de abertura mas sim por força de uma teimosia minha em recordar quem abre caminhos à história. Neste caso, Fernando Pinto Oliveira e Narciso Miranda.