Para Matosinhos o mar e os pescadores são apenas peças de museu

 


Quando falo de Matosinhos noutros pontos do país - como acontece aqui no Alto Alentejo - a primeira coisa que é referida é o peixe da nossa terra.

Matosinhos foi não apenas uma terra de pescadores e também foi terra de marinheiros (ou marítimos, como quiserem).

O seu crescimento, no século XX, ficou a dever-se muito à pujança do porto de pesca, sem esquecer, obviamente, a atividade do porto comercial. Na época de ouro da pesca (sobretudo da sardinha), os dois conviviam muito bem, embora a construção dos cais para as embarcações de pesca tivesse tardado. Já os conheci quando para lá ia na companhia do meu avô Ferro, que tratava de uma série de arrastões - Rio Tua, Douro Litoral, Carlos Roeder... - matriculados em Aveiro mas que aqui operavam quase todo o ano devido à difícil barra de Aveiro. Nos anos 60/70, a comunidade piscatória de Matosinhos - que muito contribuiu com a 'importação' de portugueses de outras paragens costeiras do país que aqui se fixaram - de Setúbal a Tavira - estava viva e pujante mas o declínio e o desinvestimento já espreitavam.

As políticas nacionais de investimento na agora chamada economia do mar foram um desastre absoluto e só esporadicamente apareceu um secretário de Estados das Pescas, como aconteceu com José Apolinário, que percebia minimamente no assunto.

Os políticos enchem sempre a boca com o mar, sobretudo em época eleitoral, mas na realidade nada investem nas atividades marítimas.

O país que tem a maior reserva oceânica da Europa pura e simplesmente maltrata quem arrisca a vida no mar para pescar, aquietando a comunidade com subsídios, para evitar problemas e continuar a manter a encenação.

Tudo isto para vos remeter para imagem que hoje Humberto Silva publicou e que diz tudo quanto ao futuro do nosso porto de pesca, esmagado pelo crescimento do espaço para contentores.

Por isso, cada vez mais estou do lado dos caquéticos que passam a vida a reclamar um Museu do Mar para Matosinhos. De facto, o mar para Matosinhos e para Portugal é uma peça de museu como tantas outras.

Tenho pena pois conheci essa azáfama e adorava estar atento à onda curta do rádio do meu avô, no seu escritório da Rua Moinho de Vento, em Leça da Palmeira, de onde se via uma nesga de oceano, para ver quando chegavam os arrastões de Aveiro a Leixões, sempre acompanhados pela Vénus de Milo que não sei porquê por ali estava já a mexer com as minhas fantasias de pré-adolescente.