Pouco juízo e muito Siza


As quatro casas da Avenida D. Afonso Henriques/Rua Dr. Filipe Coelho/Rua Forbes Bessa foi a primeira obra de vulto de Siza Vieira, ainda enquanto estudante de arquitetura. Um conjunto de habitações que aguardar classificação como monumento de interesse municipal e que aquando os Open Days anuais tem sempre uma casa que pode ser visitada (e merece ser visitada). Construídas entre 1956 e 1957, estas quatro casas permanecem modernas, ou não tivessem saído do estirador do arquiteto português mais consagrado, um matosinhense que teve a sorte de no início da sua carreira ter tido oportunidades para começar a mostrar o seu génio na sua terra, como aconteceu também na piscina da Quinta da Conceição e na Piscina das Marés, pela mão também do então presidente da Câmara, Fernando Pinto Oliveira. Só muito mais tarde, já com Narciso Miranda na liderança da autarquia, Siza voltaria a desenhar Matosinhos, mais precisamente a marginal de Leça da Palmeira, o que justificou na altura uma espécie de levantamento municipal no qual até o inefável Reininho, que aqui aterrou de paraquedas, cantava que Leça com palmeiras, não é do Siza Vieira - pobre ignorante que nem sabia que a Palmeira de Leça vem dos palmeiros que aqui estagiavam quando demandavam a terra santa.


Siza é um daqueles arquitetos que mesmo carregado de prémios internacionais continua a justificar a crítica de qualquer um com a quarta classe mal feita ou o 12.º ano concluído nas novas oportunidades. Estive quase a colocar-lhe esta questão numa passagem de ano na casa da Cláudia e do Manel quando fiquei sozinho à mesa com ele mas deixei-o continuar a desenhar umas coisas no guardanapo, assistindo de palanque à geniomania do artista e resistindo à tentação de no final lhe pedir o guardanapo.
Um génio gera sempre polémica e Siza também tem colada esta vieira na sua lapela, para a qual bem pode deixar cair a cinza do cigarrito da ordem. Eu cá gosto, consciente porém que o meu gosto não tem qualquer importância. Mas gosto sobretudo quando Siza não quebra totalmente o paradigma com o passado.


Como na recuperação desta antiga casa agrícola, em Oudenburg, na Bélgica. O antigo e o novo fazem sempre um lindo par.