Mais um pouco de luz sobre a escuridão que sufoca a Brito Capelo

 


Completam-se hoje três anos desde que organizei, no Orfeão de Matosinhos, onde fui dirigente durante as comemorações do centenário, esta tertúlia a propósito da Rua Brito Capelo, na qual juntei um antigo presidente da Câmara, Narciso Miranda, que esteve à frente de dois planos que tiveram grande impacto nesta rua matosinhense - primeiro tornando-a pedonal, com calçada portuguesa, e depois com a entrada do metro em força ou sem a cedilha -, João Fonseca, um mamedense que é grande especialista em avaliação imobiliária, e Américo Freitas, um dos maiores historiadores da rua e da nossa terra. Na altura, debateu-se o passado, procuraram-se as origens do definhamento da antiga sala de visitas de Matosinhos e olhou-se para o futuro.
Em três anos, pouco mudou. A autarquia apenas transferiu alguns serviços que implicam movimento residual para o centro comercial Antiga Câmara (que continua a ser um elefante branco), mais umas tantas lojas fecharam e o ambiente noturno degradou-se notoriamente.


Por altura do Natal, a Câmara tem procurado trazer alguma animação à rua e até lhe estende o tapete vermelho. Mas a freguesia noturna e a falta de vigilância não perdoa e, como se pode ver, neste caso tudo que era cobre foi à vidinha. Experimentem passar pela rua depois das 22 horas e irão reparar facilmente que qualquer rua de Sinaloa pode ser comparada embora, obviamente, na 'Brito' não haja tacos à disposição, não faltando, porém, alguns produtos típicos da América Central.
Com a transferência da Câmara para a zona do Basílio Teles, Matosinhos passou a ter uma nova centralidade e essa é uma das razões mais fortes que explicam o declínio desta rua onde se acreditava que o metro traria oxigénio. O metro e a cobertura anunciada por um dos participantes nesta tertúlia. As cidades são seres vivos e muitas vezes o que era bom e bonito já não regressa, nem que seja de calçadeira. Mas o problema desta rua, de onde desapareceram os bancos, por exemplo, sempre os primeiros a abandonar o barco, não é tanto o aconteceu mas sobretudo o que não foi feito para além de paleio da treta e de projetos que nada trouxeram, como aconteceu com a ESAD IDEA, onde se gastaram milhares na recuperação do edifício da antiga Caixa Geral de Depósitos - criando-se mesmo apartamentos para residências artísticas -, cuja inauguração contou mesmo com a presença do primeiro ministro António Costa, já nos dias finais de Guilherme Pinto como presidente da Câmara, no final de 2016.


A festa foi bonita mas em cinco anos a ESAD fez ali um par de exposições, organizou um ou outro colóquio e na última vez que passei por lá tinha o bar aberto mas às moscas.
O investimento está feito e o repto que aqui fica vai no sentido de se verificar se o investimento feito na recuperação do edifício justificou a entrega de mão beijada à escola de design ou se porventura não serviria melhor os muitos artistas plásticos matosinhenses (é uma ideia, melhor, uma idea), que bem podiam trazer algum público a uma rua onde, é bom que se diga, já se recuperam alguns edifícios para habitação (um caminho sensato, sem dúvida).
A Brito Capelo ainda não morreu e pode ser revitalizada mas que ninguém pense que voltará a ser o que era. Olhem para os que nos acontece todos os dias ao espelho.