Ali perto da rua de Madoufe, em Perafita, junto à urbanização das Ribeiras, foi identificada há um par de anos a Mota de Perafita. Já aqui demos de tal notícia mas importa agora fazer uma clarificação sobre esta importante estrutura que mais não era que um castelo construído em madeira, com um fosso à volta e instalado sobre uma mamoa artificial de terra, de forma a ficar em posição elevada. Em Portugal só temos duas motas identificadas: esta e outra em Celorico de Basto.
Há muito tempo que se sabia da documentação medieval portuguesa da notícia da mota de Adaulfo, em Petra Ficta, sítio assim chamado certamente por ali terem sido identificados menires ou dólmens. Portanto, um sítio de longa ocupação, como se prova nas sepulturas medievais de Montedouro, não muito longe desta mota, e outro sítio extraordinário que pode corresponder também à localização de uma paróquia do tempo dos suevos (séculos IV e V), como resulta do topónimo Moutouro, relevado pelo historiador Almeida Fernandes num dos seus sempre controversos livros.
Voltando à mota, foi o professor Mário Barroca, meu orientador de um mestrado que deixei a meio e mestre inesquecível da arqueologia medieval, que destacou a importância de se identificar esta estrutura que tudo indicava encontrar-se na freguesia matosinhense de Perafita. José Manuel Varela e Conceição Pires, no gabinete de arqueologia da Câmara Municipal, puseram pés ao caminho e conseguiram encontrar a meta, tendo Mário Barroca validado o 'achado'.
Mas os anos vão passando e, para além do levantamento topográfico, nada de novo aconteceu num sítio extraordinário que muito valoriza o património arqueológico de Matosinhos. Urge, por isso, dar o passo seguinte. Eu sei que isto não tem o glamour que pode ser plasmado nas redes sociais dos corredores do Leça ou dos menus de degustação mas pensem só um bocadinho e vejam se sobra 'algum' para a valorização do nosso património histórico. A 'coisa' fica muito mais barata que qualquer ajuste direto para asfaltar uma rua.
PS - Vem muito este texto a propósito de uma notícia anterior sobre a mota, na qual apenas referi que foi José Manuel Varela que a identificou. Agora, sim, estão atribuídos os créditos devidos.