O xuto e o pontapé do Zé Pedro


O PCP Matosinhos, que às vezes surge travestido de CDU, detalhou os motivos do seu 'não' a mais uma mandato a mandar nos bombeiros, nos nadadores salvadores e nos sinais de trânsito. Segundo justificou, Luísa Salgueiro "não deu garantias" de que os problemas identificados - dos despedimentos da Petrogal à falta de soluções para a A28, passando pela cobertura da estação de metro da Senhora da Hora - não se repetiriam. Com isto ficamos a saber que a presidente da Câmara formulou o convite para a renovação, sim!, mas com a mesma convicção com que dizemos a um amigo chato 'um dia destes tomamos um café'.

Os comunistas, que por vezes tomam a forma de uma melancia, em época eleitoral, têm vindo a perder terreno no eleitorado matosinhense. A saber, em 2017 tiveram 6,72% dos votos (5.374) e agora 6,58% (4.580), uma perda de 794 votos, ainda assim mais 642 votos nas eleições de setembro que o rival extremista Bloco de Esquerda (1.393 foi a diferença em 2017). Em 2013, a CDU recolheu 5.398 votos (7,32%), subindo substancialmente o resultado de 2009 (3.856 votos, 4,37%). Será exagerado dizer-se que o balão vermelho está a esvaziar-se e é justo referir o efeito José Pedro Rodrigues na passagem para um patamar ligeiramente mais alto que coloca a CDU na luta séria pelos lugares de vereação. Nas últimas eleições, JPR foi o 10.º vereador a entrar, ou seja, ainda com margem, embora curta (o 11.º e último foi colocado pelo PS com 4.339 votos, isto é, menos 41 que os que valeram à CDU este lugar na vereação).

A título de curiosidade, note-se que o Partido Socialista meteu o 1.º, o 2.º, o 4.º, o 5.º, o 7º, o 9.º e o 11.º vereador com base no famoso método de Hondt que, como se sabe, favorece sempre os partidos com mais votos. O PSD meteu o 3.º e o 8.º e António Parada entrou na 6.ª vaga, ficando a 903 votos de conseguir igualar os dois vereadores de 2017. O Bloco de Esquerda ficou a 401 votos de eleger pela primeira vez um vereador e o Iniciativa Liberal, que fez a sua estreia, a 1068 votos. O CHEGA e o PAN ainda estão longe de interessar para estas contas. Para o PSD de Bruno Pereira ficou o ligeiro amargo de boca de não ter conseguido eleger um terceiro vereador por 34 votos, roubando-o ao PS.

Voltando ao assunto principal, que já vai longa a divagação, temos de chegar à conclusão que José Pedro Rodrigues é um player do universo autárquico matosinhense. Agora irá fazer uma espécie de travessia do deserto, para regressar com outra energia em 2025, num contexto que ainda se desconhece mas que pode ser já de "grande liberdade" a nível nacional no que toca a geringonças. JPR tem futuro pela frente, sim, mas com a certeza de que será muito difícil voltar ao ventre materno para o qual foi disparado por Guilherme Pinto (a não ser que aconteça algo de muito estranho em 2025).

Para Luísa Salgueiro, o que aconteceu foi mais um momento também de libertação da herança que recebeu de um presidente em luta com a morte. Feita a praça em homenagem e cumprido o acordo com a CDU, a presidente da Câmara de Matosinhos tem finalmente algum ar para respirar e para se afirmar como tal. O que se viu agora foi que conseguiu também colocar no topo da hierarquia do executivo dois ases escolhidos por si no baralho, relegando para plano secundário os históricos da mercearia e colocando entre eles mais dois jovens do seu círculo pessoal. O que não foi coisa pouca para quase início de conversa...