O que procuramos no vento

 

Sobre os telhados e as chaminés, um galo catava o pouco vento.

Se era sul ou norte, não me perguntem - esqueci.

O que primeiro cai numa casa é sempre o telhado. Inevitável como o destino, com o barro a ser devolvido à terra.

O vento de ontem já passou, como passou tudo o que então julgávamos importante.

Foi um ar que se lhe deu, um ventinho, se quiserem (se não quiserem, estou-me nas tintas!).

As casas onde vivemos caíram mas continuam habitadas pelas nossas pessoas. Mas não me perguntem nomes, datas ou histórias. Vamos evitar adulterar as memórias com o que a imaginação provoca sobre o esquecimento.

Apenas sei que neste momento que já não é momento um galo preto apontava a direção do vento. Pode parecer coisa pequena e se calhar até é.

Lá no alto do Marvão, caro professor Cunha e Silva, foi este galo que cata ventos que me prendeu a atenção. Só soube depois que estava por lá a nossa Irene Vilar. Provavelmente é para aí que este galo que cata ventos aponta, a meio de uma tarde de mansidão, indiferente ao outono que cresce em tudo o que está à volta e ao guerreiro tirado da pedra pelo Cutileiro.