Os desafios de Luísa Salgueiro


Pela primeira vez Matosinhos tem uma mulher a conduzir o seu destino. Ter uma mulher a conduzir o nosso destino não é mau - é o melhor que nos pode acontecer (falo por mim). Mas o importante não é o género mas o que se gera.
Quem não votou na Luísa está nesta altura um tanto crispado e na minha opinião demasiado. Não é caso para tanto. A nova presidente chega a esta posição com largos anos de experiência como vereadora e deputada, para além de conhecer bem a terra onde não vive apenas porque, como muitos outros matosinhenses que não deixaram de o ser, optou por viver no concelho vizinho da Maia (se isto é um problema, os matemáticos são dispensáveis).
O processo que conduziu à sua eleição é também contestado por muitos, sobretudo por aqueles que pertencem à "família socialista de Matosinhos" e que por isto ou por aquilo não entraram no autocarro, esse grande grupo que domina o concelho desde o 25 de abril (mal ou bem é algo que não vamos discutir aqui na certeza de que é isto que os matosinhenses que votam na maioria querem). Os elementos dessa família que descolaram do projeto de Luísa Salgueira estão naturalmente feridos e a virulência que já se nota é natural. Mas eu, que não sou da família, preferia que a trocassem por expetativa, se é que se pode pedir tanto a quem vive a política como vive o futebol...
O mais importante, hoje, em Matosinhos, é começar a perceber o que Luísa Salgueiro e a sua equipa podem fazer por Matosinhos. Há grandes desafios pela frente e o que se espera é que pelo menos alguns deles sejam conseguidos - todos, já sabemos que será impossível.
O concelho está farto de obras de aparato e precisa, sobretudo, de ações que promovam a qualidade de vida dos seus cidadãos, nas mais diversas áreas, da habitação à cultura, passando pela mobilidade e pela qualidade dos espaços públicos. Mais importante que uma grande praça de homenagem a este ou aquele é o que essa grande praça, por exemplo, pode trazer de melhor para quem vive e trabalha em Matosinhos. Mais importante que uma bela exposição ou um grande espetáculo de teatro é alargar públicos e não reservar esses investimentos a elites. Mais importantes que importar cultura é promover quem produz cultura em Matosinhos, distribuindo os apoios por quem faz e não por quem apenas está.
Uma boa gestão tem de ter sempre critério. Esse critério nunca agradará a todos mas tem de ser assumido sob a luz de princípios bem claros. Matosinhos tem gente de muito valor e com grande capacidade empreendedora. Não é Matosinhos que tem de estar primeiro mas os matosinhenses. Os vivos.
Matosinhos tem um grande potencial turístico para explorar e a proximidade do porto e do aeroporto, para além das boas acessibilidades (tirando a malfadada Via Lenta), são outros fatores que precisam de ser mais potenciados. Aqui, o trabalho será sobretudo da iniciativa privada mas a câmara precisa urgentemente de agilizar os seus processos e serviços para não complicar a vida a quem quer fazer. Já todos percebemos que a malha tecno-burocrata da autarquia normalmente funciona contra e raramente a favor de quem bate à porta. Veremos se há coragem e determinação para desfazer este imbróglio. Não apostem muito aqui...
Na parte que me toca, porque conheço minimamente as pessoas, acredito que nos próximos 4 anos Matosinhos pode melhorar se se importarem menos com as placas e passarem a preocupar-se sobretudo com as pessoas e com a qualidade do espaço público e dos "produtos" oferecidos à população. E, claro, se o Paço Municipal perder os tiques autocráticos que se têm acentuado de ano para ano, dividindo os matosinhenses entre os amigáveis e os adversários. Como já disse atrás, o problema é quando confundimos isto tudo com um jogo de futebol.
Bom mandato, Luísa!