Quando se faz política de terra queimada há sempre o risco de haraquiri


Manuel Pizarro foi quem escolheu a candidata do Partido Socialista às autárquicas que aí vêm. Agora escolheu-se a si próprio para ser candidato ao Porto pois, como escreveu Luísa Salgueiro, "grande parte do trabalho" feito por Rui Moreira a ele se deve. É extraordinária esta capacidade para despejar sobre o antigo secretário de Estado da saúde esta aura mística de ser ele, afinal, a locomotiva daquilo que o Porto é hoje e que deve a Moreira, a Rio e, sobretudo, ao dono da Ryanair e à iniciativa privada. Não somos bruxos mas arriscamos uma derrota histórica para Pizarro e os seus leais acólitos no Porto, onde nem o bispo nem Pinto da Costa mandam, como todos sabemos. E muitos menos esta nobreza encartada nos corredores do poder.

Rui Moreira só precisava de um pretexto para se livrar do Pizarro. Deu-o a patroa do PS, a inefável Ana Catarina Mendes. De bandeja. O atual presidente da câmara do Porto não precisa dos partidos para governar a cidade, só precisa que os partidos o deixem em paz - e isso está plenamente conseguido.

Por cá, em Matosinhos, também se fez sentir a mãozinha do Pizarro, que não é exemplar único mas encaixa perfeitamente neste retrato que Ian McEwan fez dos políticos, in "Amesterdão":

- Já algum tempo que não via um político de perto e esquecera-se do movimentos dos olhos, da incansável busca de novos ouvintes ou opositores, da proximidade de qualquer figura de estatuto mais elevado, ou de qualquer hipótese importante que lhe pudesse escapar.

Foi precisamente isto que vi quando Pizarro esteve há poucos meses na nossa Brito Capelo, num evento com a presença do primeiro-ministro, quando em Matosinhos tudo se apressava face à decadência física galopante do antigo presidente da câmara.

Vamos ver também do que é capaz de fazer ainda o PS de Matosinhos sob a batuta de Ernesto Páscoa. Já percebemos que não se vai conformar.