A Nova Era e a extinção das freguesias

Vai por aí um grande banzé a propósito de dois assuntos:


- O facto de a Nova Era ter anunciado a sua festa de verão para Matosinhos quando esta decorre na praia do aterro, na freguesia do Paço da Boa Nova.
- A posição assumida por 8 das 10 juntas de freguesia de Bouças contra a extinção de algumas freguesias no âmbito da reforma administrativa que está em curso (mas devagarinho).


São assuntos muito próximos. O primeiro revela um último estertor vernacular, o segundo resulta apenas do apego a determinadas posições políticas ao estilo de rampa de lançamento.
Não é difícil perceber que a história de uma terra não depende do seu estatuto administrativo ou das suas fronteiras imaginárias. Faz-se caminhando e, sobretudo, preservando o património e conhecendo a História. Leça da Palmeira é, nesse aspecto, uma terra privilegiada e não estou a falar apenas do Jorge Bento.


A última grande reforma administrativa ocorreu em meados do século XIX. Ou seja, há um século e meio. Estava na hora de fazer outra, agora também em nome de uma poupança que urge. Mas eis que ressurge o espírito paroquiano no seu pior, quiçá estimulado por forças políticas viciadas nas ações de rua e no pic-nic anual da Quinta da Atalaia, embora com um pseudo-comando do xuxas locais. Dispostos também a debater a localização do Quecódromo, reclamando-o como ex-libris da freguesia do Paço da Boa Nova. O que me faz lembrar a questão da marginal de Leça que sem palmeiras seria sempre do Siza Vieira e que hoje é de todos serenamente, sem termos que andar a esbarrar nas ditas cujas.


Somos do lugar onde nascemos, onde crescemos, onde vivemos e onde desfrutamos de grandes momentos. Não somos nunca de um ponto específico e não somos donos de parcelas do território. Eu, por exemplo, olho para a minha rua não como minha mas como de todos os que lá vivem e lá passam. Não nasci lá e não me importa se vou lá morrer. É uma rua como outras, num local específico do nosso território, envolvida pela história e vivenciada por muita gente. Se ele está em Perafita, como é o caso, na freguesia do Paço da Boa Nova, em Bouças ou no Monte dos Pipos é algo que pouco me importa embora prefira viver a 200 metros do mar em vez de viver num bairro semi-clandestino junto das bouças.


Se Matosinhos perder freguesias, nada ficará a perder.
Há muitos anos que as juntas de freguesia se dedicam apenas a proporcionar bailes e passeios para velhinhos, sempre na perspectiva de angariar votos. A causa é decente mas não prioritária até porque os velhinhos devem ser poupados a esses espectáculos públicos.


Portanto, tudo isto não passa de folclore. A caravana vai passar, a festa de verão vai bombar, a freguesia do Paço da Boa Nova vai desaparecer e tudo continuará como dantes. E em setembro não faltarão couratos e pins do Che Guevara. Quanto aos presidentes de junta que perderão o poleiro, certamente se encontrará um pelouro para os mesmos.