O CASO MMG


Confesso que não me apetecia falar do caso Manuela Moura Guedes, um caso que só surpreendeu quem anda distraído. Depois da saída de Moniz da TVI, estavam à espera de quê? O Jornal Nacional de sexta-feira há muito tempo que incomodava porque atacou a fundo um caso que, quer queiram quer não, envolve o actual primeiro-ministro, o tio, o primo, a mãe e se calhar a sopeira. Governamentalizada pelo Estado, jamais seria a RTP a fazer este trabalho. Quanto à SIC, anda perdida no seu labirinto e todos sabemos que Balsemão não faz rupturas e por isso mesmo é que continua a levar a sua, pouco se importando os jornalistas quando ele próprio se diz jornalista e muito mais se incomodando com a carteira de MMG. Os jornalistas são uma classe muito especial na qual campeia a falta de solidaridade, a inveja e a má formação. Com todo o sucesso que conseguiu, dormindo ou não com o patrão, MMG dificilmente conseguiria encher uma mesa de dez pessoas com os seus amigos jornalistas e desses dez, pelo menos cinco entretanto já não lhe devem atender o telefone. É assim na parte que toca a esta tribo.
Quanto aos foguetes que alguma opinião pública lançou, invocando mesmo o 25 de Abril para validar o saneamento, o que é notável, quer-me parecer que correspondem apenas àquela franja de clientes fixos dos fóruns e do programa da Fátima Campos Ferreira (e seus óbvios admiradores) e que acham que os jornalistas deviam andar todos de trela e ter as quotas em dia do partido. É o país que temos.
Na parte que me toca, só me consigo rir com a nossa democracia e sobretudo com as reacções primárias a este caso. O tom geral é de alegria. Para uns porque calaram uma voz incómoda, para outros porque foi silenciada uma voz de sucesso, para uns tantos ainda porque amordaçaram alguém que todos os dias lhes gritava na cara "vejam bem, é possível uma pessoa ser diferente".
Um milhão e meio de pessoas viam o Jornal Nacional de sexta-feira da TVI. Presumo que não eram todos masoquistas. Em breve terão no lugar de Moura Guedes e de Moniz um desses jovens turcos que subiram nas redacções à custa de purgas e que sobrevivem como lapas agarradas aos poderes. E aí poderão todos, finalmente, voltar a adormecer no sofá. No fundo, um projecto de vida à medida dessa "ampla maioria" que acha que MMG devia ser exilada em Marte e ainda assim algemada.