O COMÍCIO DOS PENSADORES

Não, meus amigos, não é uma imagem da recente sessão da meia-noite do Clube dos Pensadores. O Joaquim Oliveira e o Germano Silva estão, por isso, apenas a fazer cenário, bem como aquele tipo sorridente ali atrás que parece o meu amigo Martins. E não, também não foi servido sumo de laranja. Desta vez nem houve doces húngaros, pelo que eu e o meu amigo Modesto, futuro presidente da junta do enclave Perafita/Leça da Palmeira, tivemos que ir matar o bicho com um rissol de camarão e uma mini no café mais próximo do local onde decorreu o debate. Disse debate mas devia ter dito comício porque, sem que Guilherme Pinto tivesse qualquer culpa, a sala encheu e transbordou com apaniguados do actual presidente da Câmara, que transformaram o que costuma ser um espaço de liberdade de pensamento num lavar de roupa suja que só surpreende quem não conhece esta tribo que vive colada ao poder como mexilhão às rochas das nossas praias. Muito fatinho e gravata, portanto, algumas toiletes feminnias, boas coxinhas, porque não dizê-lo?, e eu ali de calça de ganga, sapatilha, um tee-shirt suada e uma camisola coçada por cima das costas (embora com a desculpa de ter vindo directo de umas prospecções arqueológicas) a tentar disfarçar, justificando, consequentemente, o comentário de um dos presentes, que garantiu que naqueles preparos jamais seria atendido no bar do João, o que não acredito pois o João sabe o que a casa gasta e era tipo para me servir uma tosta mista mesmo que lá aparecesse com uma camisola com a cara do Che Guevara a fumar um charro, o que é uma possibilidade técnica. Pois bem, quanto ao debate-comício, a que assisti sentado nas escadas, nos intervalos das cigarradas, foi apenas uma oportunidade para alguns mostrarem ao líder como lhe são fiéis e merecem uma promoção na próxima distribuição de tachos, obviamente com algumas excepções. O único que acabou por pôr o nome aos bois foi Carlos Oliveira, que ali mesmo falou de um conhecido radialista local que lhe apareceu em lágrimas a pedir emprego, tendo Guilherme Pinto, de quem hoje nem o nome soletra, conseguido o tal tachito. Foi um bom exemplo do que acontece nesta terra, onde quase todos orbitam à volta do núcleo magnético do poder. O resto, meus senhores, foi mais do mesmo, com algumas bicadas ao Pedro Taboada, que era o anfitrião e merecia mais respeito. Mas respeito é coisa que esta gente não tem, nem sequer pelo Joaquim Jorge, no fundo o grande culpado por esta pequena vergonha. Mas como já tinha convidado Narciso, tinha de chamar também Guilherme. O presidente da Câmara acabou por ser o melhor do debate. Estava soltinho, com as ideias bem alinhadas, só se atrapalhou uma vez nos números e, claro, provou a sua eloquência suportada por uma voz quase tonitroante. Gostei de o rever, sinto-o preparado para a luta, ou para a lota, que a vai haver. E esteve muito bem na forma como resposdeu, já em tempo extra, ao meu amigo Modesto, que ontem estava com a fixação do tai-Chi Suan ou lá o que seja.