25 DE ABRIL

Tinha 12 anos quando nasceu o dia 25 de Abril de 1974.
Passaram-se 35 anos e agora tenho 47.
Está visto que ninguém pode parar o Mundo...
O que mudou em Portugal nestes últimos 35 anos? Bem, teremos de dar algum tempo para que a História consolide ideias e teses.
À vista desarmada, Portugal é hoje um país mais moderno mas nem por isso maior.
Havia um canal de televisão e agora temos 245 e fica difícil escolher um decente.
Havia um presidente da República que se vestia de marinheiro e agora temos um PR oriundo de Boliqueime que foi poço e agora é fonte.
Em meados da década de 70, Portugal tinha 17 por cento de analfabetos e hoje temos 10 apesar de todas as reformas educativas. No início do século XX esta taxa rondava os 80 % e a I República e sobretudo o Estado Novo mudaram o paradigma. É uma vergonha para o Portugal moderno que 10 em cada 100 portugueses ainda não saiba ler. Mais preocupante ainda é que entre os que sabem ler, uma larga fatia não consiga interpretar um texto.
Como um dia disse Rodrigo, político pouco lembrado do século XIX, nascemos num país de brutos, crescemos com os brutos e morremos entre brutos.
O 25 de Abril de 74 foi uma catarse colectiva. Quem o pôde viver na plenitude certamente jamais esquecerá o que aconteceu. Obviamente, há quem o festeje e quem o lamente. O processo histórico é sempre assim, sobretudo visto de perto.
Os portugueses querem acreditar que Portugal está melhor mas não acreditam neles. E isso é fatal. Por isso é que continuam a apreciar caudilhos locais e nacionais e perdem o tempo a ver novelas e concursos. Reconheço que são bons paliativos - os caudilhos, pelo que nos divertem, e as novelas, pelo que nos sugerem. Isto é, nada.
Tenho um amigo que por acaso está por cá e que é fanático por Oliveira Salazar. Por acaso era o tipo mais excêntrico da minha geração. Um maluco completamente imprevisível, protótipo do anarca, embora já com alguns tiques nacionalistas. Penso que isto realmente o diverte e como é um bom factor de provocação, carrega sempre nas cores.
Os portugueses vão perceber um dia que Salazar é um dos heróis da história nacional. Com um bocado de jeito ainda acabará beatificado. Dizem-me que um velhinho de 89 anos deu um beijo numa fotografia do ditador e ficou com priapísmo, embora já se tivesse esquecido que tinha tomado as pastilhas azuis do filho...
Salazar não foi pior do que Cavaco, Sócrates, Guterres, Barroso ou Soares. Apenas esteve mais tempo no poder. É a única diferença. Para além de ter apenas de prestar contas aos grandes empreiteiros da indústria nacional e não precisar de se ajoelhar perante uma legião de subempreiteiros com pretensões a capitães da indústria depois de terem conhecido o sucesso a vender hortaliças em grandes superfícies ou rolhas de cortiça para a Líbia.
Salazar tinha mais graça, confesso, sobretudo se visto pela pena delirante da Felícia Cabrita, que lhe inventou amantes como quem tira coelhos da cartola, ou melhor, coelhinhas.
Tenho saudades de o ver passar na Via Rápida, ou seria o Tomás?, num Mercedes negro com as bandeirinhas de Portugal a drapejarem no capot. Tenho saudades, no fundo, de ser um infante. Quando o Mundo era apenas a preto e branco, como os sonhos. Esta vida demasiada colorida que levamos, confesso, tem tanta piada como um discurso de Cavaco Silva.

Vina Salazar! Viva o 25 de Abril!