MUDAR DE RUMO

O modelo de administração pública parido pelo 25 de Abril está longe de estar afinado. Matosinhos é um bom exemplo pois aqui reinou, durante 26 anos, Narciso Miranda, o nosso Lula da Silva, também ele chegado ao poder via sindicalismo, também ele um ex-hirsuto, também ele um gato com sete vidas, também ele um fenómeno de popularidade. Depois de Valentim, de Felgueiras e de Isaltino - com os quais apenas não tem em comum o facto de ser arguido em qualquer processo aberto -, Narciso Miranda desafia-se a si mesmo ao lançar-se na reconquista da câmara que cedeu ao ex-delfim Guilherme Pinto, valha a verdade o último moicano nesta posição subalterna e aquele que em condições normais menos condições tinha para lhe suceder. Mas logo aí GP começou a mostrar que não é tão bruto como o pintam, o que se pode verificar, aliás, na qualidade das suas intervenções públicas, se calhar um tanto ou quanto barrocas mas sem dúvida substanciais. Não era bem aqui que queria chegar mas fica o nariz de cera. O que eu queria dizer é que faz falta ao ambiente democrático português a figura do corregedor que noutros tempos fiscalizava a actividade das câmaras. Porque, está visto, está toda a gente a cagar-se para as sentenças do Tribunal de Contas. O resultado está à vista: autarquias à beira da ruptura financeira e sem capacidade para, como noutros tempos aconteceu, nos tempos dos provedores e dos corregedores, financiar a própria admnistração central. E porque não?, pergunto eu. Sempre era uma forma de inverter uma lógica despesista. Se as autarquias colectam impostos e geram receitas por que razão têm de andar sempre de mão estendida?