CAPITÃES DE ÁGUA DOCE


Não pediam um tostão que fosse a mais pela inscrição no curso e, em dia de exame, os directores das duas escolas náuticas ainda brindavam os alunos com mensagens por telemóvel a dar as respostas certas. Objectivo: garantir taxas de aprovação a roçar os cem por cento e atrair centenas de clientes de Norte a Sul do País. Arrasando a concorrência. Só que o crime foi denunciado à Polícia Judiciária e, apurou o CM, entre os 40 alunos suspeitos de corrupção está Joaquim Ferreira do Amaral – o actual presidente da Lusoponte que foi ministro de Cavaco Silva e candidato à Presidência da República. O engenheiro, que vive em Lisboa, deslocou-se com um filho até Leça da Palmeira, em Matosinhos, para tirar a carta náutica na categoria de Patrão de Costa. Confessa ao CM ter recebido "uma SMS" com todas as respostas certas do exame, mas diz que até "já estava fora da sala", não se servindo da fraude para concluir o teste, em 2005. E garante não ter solicitado "ajuda a ninguém" (ver discurso directo). Só a PJ é que não pensa assim, depois de ter apanhado o conteúdo da mensagem – e constituiu, já em 2008, o ex-ministro das Obras Públicas arguido por suspeitas de um crime de corrupção activa. Ferreira do Amaral foi sujeito a interrogatório na Direcção Central de Investigação da Corrupção e da Criminalidade Económica e Financeira, no âmbito de um processo que já está concluído e remetido ao Ministério Público. Ferreira do Amaral e o seu filho recorreram aos serviços da Escola de Formação Náutica Vieira Amândio, a 300 quilómetros de Lisboa, mas o engenheiro justifica: "O curso era melhor e só durava quatro dias..." O dono daquela escol – tal como o proprietário do clube de formação náutica Consulfoz, na Figueira da Foz – tinha gente conhecida no Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos (IPTM). Este organismo nomeia o presidente do júri nos exames e o vogal é alguém da escola, nestes casos o dono.
O representante do IPTM ‘fechava os olhos’ e o dono da escola, mal tinha acesso às folhas de exames de escolha múltipla, mandava mensagens a ajudar os alunos. Entre corrupção activa e passiva, há 43 arguidos no caso.

in CORREIO DA MANHÃ