Do Raf Park aos cuidadores informais e mais vapor produzido aqui na terra

 


Convido-vos a ler a intervenção da deputada municipal Paula Mesquita, líder de bancada do Movimento Independente ANTÓNIO PARA SIM, na última Assembleia Municipal de Matosinhos.

“Os filósofos afirmam que isto há de ser sempre assim: o mais nobre de entre eles, Jesus, cujo nascimento estamos exatamente celebrando, ameaçou-nos numa palavra imortal «que teríamos sempre pobres entre nós». Tem-se procurado com revoluções sucessivas fazer falhar esta sinistra profecia – mas as revoluções passam e os pobres ficam."

Estas palavras, da autoria de Eça de Queirós e dadas à estampa na Gazeta de Notícias de 9 de fevereiro de 1881 mantêm, hoje, a mesma atualidade. E, se o cenário à data em que o celebre escritor as disse tinha atualidade nacional, hoje têm pertinência local. Vê-se em Matosinhos esta mesma realidade, nos dias de hoje.
Matosinhos tem sido alvo de algumas revoluções: a revolução da construção, que acabou com a indústria da transformação do peixe e a converteu num sem-fim de prédios e condomínios; a revolução social, que acabou com os matosinhenses e os substituiu pelos novos-matosinhense – esses que dizem viver na Foz-Norte, nos mesmos espaços onde outrora trabalhavam famílias inteiras na industria das conservas; a revolução urbana, que transformou a Brito Capelo no deserto ferroviário metropolitano de Matosinhos; a revolução comercial, que concentrou o comercio em centros comerciais e acabou com o tradicional comércio de rua. E a revolução politica – que incentivou todas aquelas outras revoluções.

Mas, de revolução em revolução, assiste-se ao um crescente empobrecimento de Matosinhos e dos Matosinhenses. A cidade está descaracterizada. A periferia permanece subdesenvolvida. Os empregos escasseiam e as famílias agoniam. O COVID19 poderia ser a grande desculpa! Mas, este executivo camarário, que foi reeleito em Setembro passado, exerce funções governativas desde 2017, e já antes, desde 2013, e desde 2009... Mudam os tempos e a justificação para o atavismo politico não pode ser a pandemia, pois que as revoluções da pioria já estavam em curso e a pandemia não mais veio do que pôr a nu as fragilidades do Concelho.
Mas, centremo-nos em três questões fundamentais: ao nível social, ao nível ambiental e ao nível político.
 
Ao nível social foi apresentada em 2017 a revolução do apoio aos idosos do concelho. Com pompa e circunstância anunciavam-se medidas e apoios aos cuidadores informais. Esta realidade, tão revolucionária e demandada, ainda hoje não traz à luz do dia a expressividade que se exigia àquele tempo. Quantos são? Quem são? Como são apoiados? Ninguém sabe! Ou se sabe, são tão inexpressivo que revelam, de forma translucida o insucesso da promessa, se é que algo foi feito para que houvesse sucesso! Uma política essencial falhada que evidência a falta de compromisso do executivo em honrar as promessas eleitorais.

Em 2020 foi proposta a baixa do IMI – mais uma bandeira eleitoral que, chegados a 2021 se revela suspensa! Não haverá baixa do IMI para o ano de 2022, supostamente porque a Camara não pode abdicar de €2milhóes de euros. Mas, num ano em que famílias e empresas estão agoniadas com os efeitos da pandemia, e que o alivio fiscal só beneficiaria as famílias, a Camara nega tal baixa, continuando a financiar tudo que não devia financiar. E são tantas as despesas que a Câmara insiste em suportar em vez de as eliminar que os ditos 2 milhões mais não serão senão um sacrifício para honrar devaneios. Veja-se, a propósito, o RAF PARK.
Este RAF PARK era outra revolução, desta vez, ambiental. O anúncio, no inicio da década passada, da instalação no Monte São Brás da instalação do parque radical, visava esta obra valorizar ambientalmente o espaço. Mas, aberto ao publico em Maio de 2012 e encerrado passados 4 meses, continua hoje numa amalgama de ruínas, destruição, deposito de lixo, e atropelos jurídicos, altamente onerosos para as contas do município, sem que tenha um fim à vista. E o Município continua a financiar.

E juntando ambiente e empobrecimento, temos a Refinaria de Leça. Construída nos anos 60, num local onde era para nascer um campo de golf, sempre se afirmou como um motor da economia matosinhense. Do pé para a mão, da noite para o dia, a GALP decide encerrar a refinaria, mandando centenas de trabalhadores diretos e indiretos para o desemprego e afetando negativamente a economia local, sem que o executivo camarário, das mesmas cores do Governo tivesse uma intervenção política ativa junto do Governo no sentido de acautelar os efeitos sociais e económicos que o encerramento da Refinaria acarretará. Resultado: mais de 250 hectares de terrenos estéreis, sem qualquer viabilidade para o que quer que seja, que demorarão décadas para ser reconvertidos. E, o exemplo do agora Parque das Nações, que tendo passado por um processo equivalente em Lisboa, demorou décadas a ser aproveitado, tendo só sido viabilizado pela EXPO98. A menos que Matosinhos vá receber uma exposição mundial, outro não será o cenário senão o de uma manada de elefantes brancos bem alimentados pela autarquia matosinhense.
Assim, estamos no Natal, e se é permitido sonhar, então é permitido pedir que neste Natal se olhe para Matosinhos com os olhos de uma criança e se cumpra o espírito natalício – Verdade nos Argumentos, Honra nas Promessa, Cumprir a palavra dada. Olhar para o próximo com honestidade, e reconhecer que este pedaço que terra, que chamamos a nossa terra seja digna da Bondade do Homem. 

Que o Natal nos traga a Paz que desejamos, e que a Política nos traga a revolução que acabará com os pobres, com a decadência e o miserabilismo a que Matosinhos foi deitado.
Deixo um cumprimento natalício, e os desejos que 2022 seja um ano de evolução e de crescimento e não a continuação das décadas que nos precedem, que nos empobreceram e hoje nos entristecem.