Por estes dias assistimos ao espetáculo da política feita entre o rosbife do restaurante da Assembleia da República e o leitão da Bairrada patrocinado pelo subsídio de deslocação no regresso a casa logo que as luzes do plenário se apagam. O país real, o do senhor António ou Manuel que construiu a sua casinha e que resiste nas grandes cidades ao progresso da especulação imobiliária, não goza desse conforto e apenas é considerado no momento de garantir os tais votos que asseguram a muitos a esperada estadia na capital da nação, depois de alguns anos de 'labuta' tentando subir o escadote partidário.
Para alguns deles, este inesperado chumbo do orçamento que derruba um Governo que parecia tão sólido como o rochedo onde foi colocada a lápide com um verso do António Nobre volta a colocar a tal pressão do 'e agora?' Pois agora chegou a hora de novo dos partidos organizarem as suas listas de candidatos a deputados, através dos respetivos círculos eleitorais, onde cabem os que têm cartão ou deixaram de ter e voltaram a ter, os que já deram o que tinham a dar nas estruturas autárquicas e aqueles que nunca nada tendo feito na 'economia real' apenas encontram este caminho para continuarem a pagar a prestação do apartamento em condomínio burguês. Por muitos que estes senhores apregoem o serviço público, o espírito de missão e qualquer utopia social, a Grande Verdade é esta: apenas tentam assegurar uma boa reserva em qualquer banco deste país e a certeza de que podem jantar fora duas ou três vezes por semana sem estar a pedir meias doses.
O português que começou a trabalhar aos 15 ou 16 anos e que em quase toda a sua vida de trabalho não teve direito a subsídios, bónus, carro com motorista ou participação económica em qualquer adjudicação pública (nem que seja por via indireta, assegurando uma eleição ou reeleição), esse tem de ficar à espera à porta pela 'boa vontade' dos ministros ou deputados que cativam mais do que distribuem, agora que o país esgotou as suas reservas de ouro há muito tempo e apenas sobrevive graças à compra de dívida por parte do Banco Central Europeu. É certo, podemos ir de Valença a a Vila Real de S. António sempre por autoestrada, e quiçá desviando até à Covilhã, mas pagando, claro, e assim enchendo os cofres das empresas de que não se conhecem donos mas que asseguraram muitos anos de rendimento rodoviário garantido.
E depois temos um interior cada vez mais desertificado, o tal Portugal B, de que se lembram apenas na hora de elaborar programas eleitorais para atirar ao gato e nos quais o gato urina. O interior vai passando bem sem esta elite política, verdade seja dita.
Pois é o que temos e provavelmente melhor não seria possível. Venha, por isso, o TGV, o aeroporto com início de pista no Montijo e fim em Alcochete, mais um curso de ajudantes de adjuntos de heliportos para ministros desempregados, mais uma plantação de canábis para o inefável Ângelo Correia, reeleições de presidentes que estagiaram nas cadeias, deputados da nação que apenas picam o ponto mas muito contribuem para a restauração lisboeta, juízes armados ao pingarelho a mascar chiclete, lutas fraticidas nos partidos entre aqueles que melhor do que ninguém sabem que naquele ambiente é sempre um contra todos e todos contra mim pois o tacho não dá para todos, e, claro, no fim esperem sempre pela mensagem:
- Olhem para nós, gente, aqui estamos a fazer o supremo sacrifício de lutar por um país melhor, por vocês que esperais na soleira da porta pela passagem do comboio de alta velocidade que todos os dias nos leva de Tondela ou de Leça da Palmeira ao coração de Lisboa, com direito a computador, secretária, TV por cabo e rosbife bem regado por três euros e meio.
Idiotas, sintonizem a CNN Portugal!