LEÇA VIGARIZADO


Um dos negócios do BPN, que levou à demissão do Conselho de Administração da BPN-Créditus do Porto, envolveu dois empréstimos ao Leça Futebol Club. Foi também do BPN que saiu um milhão de euros para a Internacional Foot, cujos sócios compraram depois o Corinthians Alagoano. Mais tarde venderam-no a António Araújo, o empresário envolvido no ‘Apito Dourado’. Os empréstimos do Leça foram repartidos em duas tranches e o do Internacional Foot foi dividido por vários titulares. O Leça Futebol Club e Manuel Lopes Rodrigues, então presidente do mesmo, receberam no espaço de um mês três milhões e 250 mil euros. Desses, a primeira tranche, de um milhão e 750 mil, só esteve algumas horas na conta do clube. O dinheiro foi transferido para a conta pessoal do presidente e daí saiu para a conta de José Fonseca, proprietário de um stand de automóveis e presidente do Tirsense. Parte do dinheiro regressou nesse mesmo dia ao BPN e à conta da Créditos, tendo 175 mil euros sido transferidos para as Ilhas Caimão, um paraíso fiscal, para uma conta da offshore Hersea, no BCP Bank & Trust. Em troca do dinheiro, que afinal nunca esteve no clube, o Leça deu para hipoteca o estádio que hoje ainda pertence ao BPN. A história, sustentada num processo cível que mais tarde opôs Óscar Silva, administrador da BPN-Créditus, a Manuel Lopes Rodrigues, presidente do Leça, remonta a meados do ano 2000. O Leça não tinha dinheiro para pagar às Finanças nem aos jogadores e recorreu ao BPN-Créditus para conseguir que lhe fossem adiantadas verbas. Manuel Rodrigues disse mais tarde que os créditos foram simulados. O primeiro de um milhão e meio não entrou no clube, porque Óscar Silva lhe pediu para fazer "circular" o dinheiro. Para resolver o problema, já que o Leça continuava sem liquidez, acabou por ter de avalizar, ele próprio, um segundo empréstimo. Um dos beneficiados com as mãos largas da financeira do BPN, gerida por Óscar Silva, foi a Internacional Foot, a agência fundada por Nelson Almeida e Rui Neno, sediada na Torre das Antas, por sinal no mesmo edifício onde funcionava a Créditus. O milhão de euros de empréstimo concedidos em 2000 – originalmente 1,1 milhões mas os dez por cento da diferença não se encontra rasto – terão servido para financiar a compra do Corinthians Alagoano, de Maceió, clube de onde saíram para Portugal jogadores como Deco ou Pepe, mas também Elias (Setúbal) e Olberdam (Marítimo). O financiamento foi assumido por oito contratos distintos de 25 mil ou 30 mil contos cada em nome de terceiros – sob a numeração 74981-83-84-87 e 77385-86-88-89. O clube brasileiro passou depois para as mãos do empresário António Araújo, sendo que a Internacional Foot também seria dissolvida passando os seus sócios a ter actividade em nome individual.

in Correio da Manhã