JOÃO FONSECA

Há leixonenses e leixonenses. João Fonseca é um daqueles que não oferece dúvidas. Hoje, no Estádio do Mar, conversei com ele longamente. O nosso "bebé", hoje com 60 anos, contou com um brilho nos olhos a sua história. O seu início como empregado da secretaria do Leixões, a sua estreia no velhinho campo de Santana, substituindo o grande Rosas, a sua passagem para o Benfica, dando ao Leixões mais de 500 contos, isto em em 1969. O dia em que se meteu no "foguete" e foi sozinho para Lisboa, apanhou um táxi e subiu à sede do Benfica para assinar contrato. A entrada no serviço militar, na Figueira da Foz, onde foi companheiro de armas de Manuel Galrinho Bento, mais tarde titular da baliza benfiquista. A Polícia Militar em Lisboa e a ameaça de ser destacado para Timor, enquanto Jimmy Hagan, um inglês que treinava o Benfica, não entendia por que razão Fonseca perdia tempo com o serviço militar. Voltou ao Leixões por empréstimo e pagou-o do seu bolso numa fase difícil da sua vida, em processo de divórcio, com dois filhos já. Foi viver para o Hotel Porto-Mar mas a pressão subiu e teve de ir para a Foz, para um hotel onde mais tarde o Leixões estagiou. "Íamos de eléctrico, no 1, para o estágio", recordou quem não tinha coragem de sair de casa, tal como os seus colegas, sempre que o Leixões perdia. Fonseca voltou ao Benfica, foi emprestado ao Varzim, foi internacional A pela primeira vez ao lado de Chalana e com o 25 de Abril tornou-se um jogador livre, depois de passar também pelo Ourense, na Galiza. FC Porto e Benfica disputaram-no. Acabou no FC Porto onde foi bicampeão, tal como no Benfica, onde conseguir fazer 20 jogos, apesar de estar na sobra de José Henriques (Zé Gato). No último jogo, nas Antas, na celebração do bicampeonato, pediu para sair perto do fim para permitir que Rui, o seu suplente, fosse campeão. O público portista obrigou-o a dar duas voltas ao estádio como prémio pelo gesto. Acabou a sua carreira já depois dos 40 anos, no Chaves, foi treinador adjunto de vários clubes e hoje é o treinador dos guarda-redes do Leixões. Fonseca foi tudo isto e é também ainda um homem com memória. Não esquece o "pai" António Teixeira, treinador dos "bebés", seu treinador também no Varzim. Nem esquece o meu pai, Joaquim Queirós, um dos dirigentes leixonenses que mais destaca como importante na sua brilhante carreira. Só um clube como o nosso pode ter homens com esta grandeza.